sexta-feira, 10 de maio de 2013

Situação de aprendizagem do texto "Primeiros infortunios" - Turma 1

Capítulo II – Primeiros infortúnios

Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de 7 anos. digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranho até não poder mais.
Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa; até que a Maria, exasperada pelo que aquilo lhe havia de custar aos ouvidos, e talvez às costas, arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava; trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas.
Assim chegou aos 7 anos.
Afinal de contas a Maria sempre era Saloia, e o Leonardo começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma ocasião, recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. isto porém passou sem mais novidade. depois começou a estranhar que um certo colega seu o procurasse em casa, para tratar de negócios do ofício, sempre em horas desencontradas: porém isto também passou em breve.
Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. um dia de
manhã entrou sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e desapareceu.
[...]

ALMEIDA, MANUEL A. de. Memórias de um sargento de milícias. p. 4.
disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/detalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1969>. Acesso em: 5 jan. 2010.

Capítulo II – Primeiros infortúnios


1.    O texto pode ser considerado uma crônica narrativa ou apenas uma narrativa?


2.    O menino apresentado no texto tinha apenas sete anos e uma infância muito levada, agora relembre um pouco de sua infância, e escreva  sobre ela.

3.    Releia o texto e grife as palavras desconhecidas do seu vocabulário, e identifique qual o significado dela dentro do  contexto.

4.    Qual a intenção do autor ao colocar o título  “Primeiros infortúnios” ao capítulo II ?

5.    O texto retrata os costumes da sociedade brasileira em toda a sua simplicidade. O modelo de família apresentada pelo autor ainda é comum nos dias de hoje?

6.    Você concorda com as atitudes de Maria “Pisadela” e Leonardo “Pataca”, em relação à educação de Leonardinho?

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